sexta-feira, novembro 03, 2006

Gerir a Raiva

Por vezes, quando se tem um mau dia e precisamos de o descarregar em alguém,
não o faça em alguém seu conhecido. Descarregue em alguém que NÃO conheça.
Estava sentado à minha secretária, quando me lembrei de um telefonema que
tinha de fazer. Encontrei o número e marquei-o. Respondeu um homem
quedisse: "Está?"
Educadamente respondi-lhe: "Estou! Sou o Luís Alves. Posso falar com a Sra.
Ana Marques, por favor?"
Ficou com uma voz transtornada e gritou-me aos ouvidos: "Vê lá se arranjas a
merda do número certo, ó filho da puta!" e desligou o telefone.
Nem queria acreditar que alguém pudesse ser tão mal educado por causa de uma
coisa destas. Quando consegui ligar à Ana, reparei que tinha
acidentalmente transposto os dois últimos dígitos.

Decidi voltar a ligar para o número "errado" e, quando o mesmo tipo atendeu,
gritei-lhe: "És um grande paneleiro!" e desliguei. Escrevi o número dele
juntamente com a palavra "paneleiro" e guardei-o.
De vez em quando, sempre que tinha umas contas chatas para pagar ou um dia
mesmo mau, telefonava-lhe e gritava-lhe: "És um paneleiro!" Isso animava-me.

Quando surgiu a identificação de chamadas, pensei que o meu terapêutico
telefonema do "paneleiro" iria acabar. Por isso, liguei-lhe e
disse: "Boa
tarde.. Daqui fala da PT. Estamos a ligar-lhe para saber se conhece o nosso
serviço de identificação de chamadas!" Ele disse "NÃO!" e bateu o telefone.
De seguida liguei-lhe, e disse: "É porque és um grande paneleiro!"

Uma vez, estava no parque do Centro Comercial e, quando me preparava para
estacionar num lugar livre, um tipo num BMW cortou-me o caminho e estacionou
no lugar que eu tinha estado à espera que vagasse. Buzinei-lhe e disse-lhe
que estava ali primeiro à espera daquele lugar, mas ele ignorou-me. Reparei
que tinha um letreiro "Vende-se" no vidro de trás do carro, e tomei nota do
número de telefone que lá estava.

Uns dias mais tarde, depois de ligar ao primeiro paneleiro, pensei que era
melhor telefonar também para o paneleiro do BMW.
Perguntei-lhe: "É o senhor que tem um BMW preto à venda?" "Sim", disse ele.
"E onde é que o posso ver?", perguntei. "Pode vir vê-lo a minha casa, aqui
na Rua da Descobertas, Nº 36. É uma casa amarela e o carro está estacionado
mesmo à frente." "E o senhor chama-se?." perguntei. "O meu nome é Alberto
Palma", disse ele. "E a que horas está disponível para mostrar o carro?"
"Estou em casa todos os dias depois das cinco." "Ouça, Alberto, posso
dizer-lhe uma coisa?" "Diga!" "És um grande paneleiro!", e desliguei o
telefone. Agora, sempre que tinha um problema, tinha dois "paneleiros" a
quem telefonar.
Tive, então, uma ideia. Telefonei ao paneleiro Nº 1.
"Está?"
"És um paneleiro!" (mas não desliguei)
"Ainda estás aí?" ele perguntou..
"Sim", disse-lhe.
"Deixa de me telefonar!" gritou.
"Impede-me", disse eu.
"Quem és tu?" perguntou.
"Chamo-me Alberto Palma", respondi.
"Ah sim? E onde é que moras?"
"Moro na Rua da Descobertas, Nº 36, tenho o meu BM preto mesmo em frente, ó
paneleiro. Porquê? "Vou já aí, Alberto. É melhor começares a rezar", disse
ele. "Estou mesmo cheio de medo de ti, ó paneleiro!" e desliguei.

A seguir, liguei ao paneleiro Nº 2.
"Está?"
"Olá, paneleiro!", disse eu.
Ele gritou-me: "Se descubro quem tu és..."
"Fazes o quê?" perguntei-lhe.
"Parto-te a tromba!" disse ele.
E eu disse-lhe: "Olha, paneleiro, vais ter essa oportunidade.Vou agora aí a
tua casa, e já vais ver."

Desliguei e telefonei à Polícia, dizendo que morava na Rua da Descobertas,
Nº 36 e que ia agora para casa matar o meu namorado gay. Depois liguei para
as cadeias de TV e falei-lhes sobre a guerra de gangs que se estava a
desenrolar nesse momento na Rua da Descobertas.
Peguei no meu carro e fui para a Rua da Descobertas. Cheguei a tempo de ver
os dois parvalhões a matarem-se à pancada em frente de seis viaturas da
polícia e uma série de repórteres de TV.

Já me sinto muito melhor.
Gerir a raiva sempre funciona.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ricardini, meu pândego

Arrefinfa aí outra "estória" ainda com mais humor

Quero rir-me ;-)

Abrações

clara disse...

LOL não consigo acreditar nesta história :D é maquiavélica :D